A atração do canal streaming Netflix teve início este mês e desde então vem influenciando no número de visitantes em Pripyat. As posturas deles, contudo, foram alvos de críticas nos últimos dias
Com o sucesso da série “Chernobyl”, da HBO, na vida real, tem crescido o número de turistas na cidade ucraniana, em especial influenciadores digitais que visitam o local do maior desastre nuclear da história mundial para tirar fotos muitas vezes com sorriso no rosto e pose sexy. A atitude, porém, tem sido criticada por muita gente, inclusive pelo roteirista e produtor da série, Craig Mazin, que pronunciou-se no Twitter sobre a “nova moda”.
“É incrível que #ChernobylHBO tenha inspirado uma onda de turismo na Zona de Exclusão. Mas sim, eu tenho visto as fotos. Se você for visitar, por favor lembre-se que uma tragédia terrível aconteceu ali. Comportem-se com respeito por todos aqueles que sofreram e se sacrificaram.”
Para Fátima Severiano, psicóloga clínica e professora do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), a situação insere-se em um cenário onde as pessoas fazem de tudo para agradar uma plateia nas redes sociais. “É comum hoje em dia, em muitas situações de risco, vermos as pessoas filmando em vez de estar ajudando. Isso mostra uma grande negligência em relação ao próximo, uma dessensibilização em relação à própria realidade, à própria miséria humana, a troco de mais curtidas. Esse é o reflexo de uma sociedade empobrecida”, diz.
Chernobyl foi lançada no início deste mês com cinco episódios. A série tornou-se um grande fenômeno da televisão, com apostas para levar importantes premiações em 2020. Confira posts feitos na cidade após a veiculação da atração do streaming.
Saiba mais
Chernobyl é o nome da usina onde houve a explosão de um reator em 1986, que lançou para atmosfera milhões de partículas de grafite e outros elementos tóxicos que se espalharam por toda a Europa, dizimando milhares de pessoas ao longo dos anos. A usina ficava na cidade de Pripyat, na Ucrânia, na época, uma das quinze repúblicas da antiga União Soviética. O acidente ocorreu em um contexto histórico de muita luta contra a utilização da energia nuclear. Desde os anos 1970, já havia a criação na Europa dos chamados partidos verdes, que lutavam em defesa da natureza, mas também contra a utilização de energia nuclear.
“Como consequências, houve um debate muito maior sobre a utilização da energia nuclear. Com a explosão desse reator, chegou-se a uma discussão que resultou em conversações políticas maiores entre o presidente dos Estados Unidos e o primeiro ministro da União Soviética sobre como eles poderiam reduzir seu arsenal nuclear. O acidente é o sinal do fim da Guerra Fria”, explica o historiador Fabiano Sousa.